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Eu era puto

Publicada por Jonas Matos |

Sinto falta dos momentos em que pensava que as incertezas eram certezas absolutas.
Sofro pela mágica dos chochos que significavam juras fieis de um amor autêntico e intenso.
Quero aqueles “chi-corações” que me enchiam de um lufada só, pois tinha a firmeza de uma mão quente quando me limpavam a lágrima cálida e salgada que me corria pela cara.
Eu era um puto.
Pareço que me consumi em mim próprio. Soltei as feras e, parvo, fiquei estupefacto a olhar para elas deixando-me que me comessem.
Se há dias nos beijávamos loucamente cientes de que algo iríamos construir, como se fossemos putos – tínhamos as cachinadas, os saltos, os guinchos, a consonância – agora estamos asfixiados na questão dúbia de quem realmente somos.
Perdemos os últimos parágrafos do nosso conto de fadas, entramos no mundo encantado das mentiras certas, no qual o Pinóquio passou a ser o juiz.
Quero-te de volta, não para mim, para ti mesmo.

4 comentários:

catarina ferreira disse...

Eras um puto que cresceu, que se tornou maduro em relação aos seus próprios sentimentos e por isso se perdeu no fundo de si mesmo, e por isso as certezas passaram a ser incertezas...

A falta que sentes de tudo o resto vais encontrar um dia em outra pessoa, vais ver!

Talvez a perda dos últimos parágrafos seja só um pretexto
para escrever um outro final-um final feliz!



BEIJO!

@

Adão disse...

Sabes… sinto-me como tu. Cada dia que passa, vejo-me a ficar mais indiferente e menos ciente da minha pretensa ingenuidade. Também tenho saudades de ser puto, principalmente nesses sentimentos são reais e tão fáceis, porque viviam da sua alvura. Quando gostávamos, gostávamos. Quando não íamos com a cara de alguém, não íamos e pronto. No mundo adulto, das relações, dos engodos e dos enganos… é tudo pretenso. È preciso saber descortinar tantas coisas. Mas no fim deste teu texto, mostras que ainda és puto. Não eras… és! Só assim se percebe o “quero-te de volta, não para mim, para ti mesmo” porque é tão sentido… e tão desprendido de alvíssaras, que só pode mostrar genuinidade.

Jonas Grancha disse...

acho este texto muito forte...
e...faço de minhas palavras as palavras destes comentarios.
ambos sofremos algo semelhante mas dela conseguimos passar e acho que temos que nos orgulhar disso!
existem cicatrizes que o mais provavel é nao desaparecerem porque o que aconteceu foi demasiado forte para as esquecermos mas ja passou, ja foi..seguimos em frente e aqui estamos.
Vivemos num mundo muito mau, onde as pessoas que achamos que sao tudo para nós mais tarde nos desiludem...e por vezes quando nos apegamos demasiado as pessoas, essa desilusao faz nos sofrer bastante...mas sabes o que faço?
eu nao desisto...e acredito na minha felicidade e na felicidade das pessoas que mais gosto!

gostei da nossa conversa de hoje e obrigado por me teres aturado...
eu nao escrevo muito bem e peço desculpa =)

Gonçalo disse...

É sempre assim meu caro joão, as coisas evoluem, não necessariamente para melhor, é mais uma questão de nos adaptarmos a mudança.
O puto é hoje um homem, e não tem que deixar de ser igual a si mesmo, somente com um pouco mais de responsabilidade.