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Preliminares

Publicada por Jonas Matos |

Estes são os preliminares de um livro ainda sem começo.
Creio que, cada vez mais, sou um ser que não sabe amar, que não se sabe apaixonar. Não me apaixono facilmente.
Senti por ti uma forte empatia que se prolongou por uns dias de forma mútua, mas depressa se desmoronou num súbito desinteresse teu. Há quem não ligue às mensagens, eu ligo; há quem não apegue aos telefonemas, eu apego-me; há mesmo quem pense que um conhecimento numa noite escura de flashes, luzes, droga, álcool e música alta seja apenas isso. Contigo e comigo não foi – pelo menos para mim. De facto senti logo que poderíamos ser alguma coisa – amigos, porque não?
Devido à minha falta de coragem não meti conversa, parece que senti uma inspiração divina – “Se sentir o mesmo que estás a sentir, vai conseguir chegar a ti” – facto é que conseguiste. Depois daquela conversa num jardim, onde crianças brincavam, velhotes passeavam e adolescestes se drogavam, fizeste-me sentir especial dado que é raro fazeres aquilo que fizeste comigo, dizes tu.
Combinámos outro encontro, desta vez uma coisa mais íntima, pensei eu, pensas tu. O problema é que eu levei o encontro num sentido, tu levaste noutro. Além do atraso, de pressa foste-te embora, dizendo apenas que já tínhamos entrado num intimidade que tinha que acabar. Acordei-te uma vez, fui almoçar contigo outra vez e fui ao cinema contigo outra vez – intimo? Não. Amizade? Um começo acelerado talvez.
Parece que esqueceste quando, por uma razão ilógica, me disseste mal de um amigo, que te ouvi, sem ripostar, aconselhando-te até num já de ser mais do que tu és realmente para mim.
Agora sinto falta das tuas mensagens começadas por “Mr. Jones”, perguntando-me mil e uma coisas sobre a minha vida. Sinto falta do bom dia e da boa noite – coisas que me acostumei de tal forma numa semana que hoje dou por mim constantemente olhar para um telemóvel como se fosse a minha única forma de vida.
Sinto-me nos antípodas da vida, coisa rara em mim – triste ou alegre; conflituoso ou social. Tudo isto porque depositei em ti a minha tábua de salvação? Que culpa tenho eu de o teu relacionamento anterior ter sido longo, ter acabado mal, e de tu não superares isso? Eu não tenho culpa. Não tenho culpa de me teres dado aquela esperança mínima de me apaixonar por ti. Porque me a deste?

2 comentários:

catarina ferreira disse...

Se, de facto, chegou até a ti, o mais dificíl já está feito. Talvez o tempo se encarregue de tornar o resto possível.

Acredito e espero que sim!

;)

Adão disse...

Mais do que nunca, hoje em dia, procuramos afectos desesperadamente. Apegamo-nos a empatias que julgamos verdadeiras e únicas. Mas nunca nos podemos esquecer que para dançar um tango são precisas duas pessoas.
Compreendo perfeitamente este teu estado de espírito, porque revejo-me nele algumas vezes. No passado, no presente e no futuro. Já não sou nenhum adolescente e caminho a passos largos para os trinta, e concluo que de relações nada sei. Que sou um ignorante no sentir, até porque quando acho que começo a encaixar as regras conheço alguém que me faz voltar ao zero. Portanto, e não querendo criar um cliché, digo que não sei ser amado. Possivelmente também não saberei amar. Perdi-me no egoísmo da vida de solteiro e provavelmente por culpa minha, não saberei “afectar-me” aos outros. Mas também já percebi que esse é um mal geral. E frases feitas de “que já estamos a ficar muito íntimos”, “ou não procuro nada sério neste momento, porque acabei de sair de uma relação”, ou “não quero perder a tua amizade” revelam a imaturidade e o egoísmo da época em que vivemos, onde não é crime abortar bases sentimentais, que poderiam fazer nascer amores eternos, dóceis e sinceros.